As investigações da Polícia Civil revelaram conversas em que o delegado Geordan Fontenelle Rodrigues e o investigador de polícia, Marcos Paulo Angeli, presos nessa quarta-feira (17) suspeitos de envolvimento em um esquema de corrupção em Peixoto de Azevedo, a 692 km de Cuiabá, negociam pagamentos de propina com garimpeiros dentro da própria delegacia.
“Após a implementação e retirada do dispositivo pela equipe de Inteligência da Polícia Civil, descobriu-se que o gabinete do representado funcionava, na verdade, como verdadeiro gabinete do crime”, diz trecho da decisão.
A defesa de Geordan nega as acusações e informou que irão esclarecer e provar a inocência dele. Além disso, classificou a prisão do delegado como uma medida extrema. A defesa de Marcos não quis se manifestar.
Em uma conversa, os dois investigados combinam divivir o pagamento de R$ 15 mil de propina para liberar um veículo apreendido. Veja abaixo:
- MARCOS: aí ele falou assim, "Ó ai vê o que que faz..... cê sabe que a gente tem que desembolsar um dinheirinho também". Falei: isso é muito bom! isso é muito bom!
- MARCOS: Fifty, fifty (50/50)
- GEORDAN: Fifty, fifty (50/50)
- *risos*
- MARCOS: pode falar pra ele?
- GEORDAN: quinze conto?
- MARCOS: É, ele falou 15
- GEORDAN: é quinze!
Em outra conversa, o delegado fala sobre a preocupação com a Operação Hermes, realizada em novembro de 2023 pela Policial Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) contra o garimpo ilegal na região. A operação bloqueou bens de garimpeiros.
- MARCOS: Eu falei, agora lascou, porque tem um monte de garimpeiro que depende disso aí também, porque garimpo é assim... os peões, tudo
- GEORDAN: então, a Apae recebe 1 mil e a gente 2, a delegacia
- MARCOS: aí, atingiu até nós, atingiu até nós, tá vendo
- GEORDAN: Recebe 2 mil da cooperativa
- GEORDAN: De onde você acha que vem o café?
- MARCOS: Uai!
- GEORDAN: Ou é tudo de graça? (risos)
Delegado da Polícia Civil, Geordan Fontenelle Rodrigues, estava em estágio probatório — Foto: Reprodução
Conforme as investigações, o delegado também estaria oferecendo serviços de segurança privada com a viatura para alguns garimpeiros da região de Peixoto de Azevedo, a 692 km de Cuiabá. As investigações identificaram o deslocamento de uma viatura em outubro de 2023 até uma mineradora no distrito de União do Norte.
A Corregedoria também apurou que um sobrinho do ex-governador Silval Barbosa (MDB), Antônio da Cunha Barbosa Neto, esteve na delegacia onde Geordan comandava com uma mochila preta, mas saiu de lá sem ela. Tempos depois, foi descoberto que o delegado apareceu na unidade com uma caminhonete que ainda estava no nome do sobrinho de Silval, e que, depois, o documento do veículo foi transferido para a esposa do delegado.
Em nota, a defesa de Antônio afirmou que "trata-se de uma singela compra e venda de veículo, sem qualquer relação com o objeto das investigações".
Carreira
Geordan Fontenelle terminaria o estágio probatório – período de experiência – em novembro. Já o investigador tinha 3 anos e quatro meses na instituição.
De acordo com o Portal da Transparência, o salário do delegado seria de R$ 29 mil.
Operação contra corrupção
A Operação Diaphthora investiga o envolvimento de policiais civis, advogados e garimpeiros em um esquema de corrupção passiva, associação criminosa, advocacia administrativa e assessoramento de segurança privada.
Nesta quarta-feira (17), foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva, sete de busca e apreensão e três medidas cautelares, em Peixoto de Azevedo.
Entre os crimes praticados pela associação criminosa, estão o pagamento de vantagens indevidas para liberação de bens apreendidos, exigência de pagamento de “diárias” para hospedagem de presos no alojamento da delegacia e pagamentos mensais sob a condição de decidir sobre procedimentos criminais em trâmite na unidade policial.
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